Continuadamente, Constantemente, Diariamente e Não Revolucionariamente

Todo jovem quer mudar o mundo.

Isto é bom e ruim ao mesmo tempo.

Bom, porque é uma força inovadora e idealista.

Ruim, porque a maioria dos jovens não tem os conhecimentos necessários para mudar o mundo. Não estudaram organização, métodos, recursos humanos, planejamento, finanças, etc, áreas necessárias para tirar grandes ideias do papel.

Pior, no Brasil e no Mundo temos um histórico de jovens e intelectuais que pregam revolução, que é justamente destruir toda a organização que existe por aí, sem nenhum conhecimento de como organizar o novo mundo.

O problema de ser jovem é não entender como implantar as suas ideias de como mudar o mundo, e na maioria das vezes só pioram a situação como a turma de 1968 fez com o Brasil. Não mudaram nada, assustaram a ditadura militar prorrogando-a por mais 20 anos no poder.

Existem duas formas de mudar o mundo, a forma revolucionária típica de partidos de esquerda, e a forma conservadora típica de partidos de direita, liberal e neoliberal.

A forma revolucionária é mudar tudo que está aí, de preferência de uma vez só.

Daí o termo revolucionário.

A forma ultra conservadora acha que o mundo não precisa de muitas mudanças, que o problema reside nas mudanças equivocadas já feitas, daí o termo “conservador”.

Quero que o leitor aceite uma terceira opção.

A do administrador e administradores.

Uma das nossas funções é realizar mudanças constantemente, pequenas suficientes para serem incorporadas por todos, mas sempre mudanças porque o mundo é mutável e inconstante.

A opção que observa o que nossos antepassados construíram de bom, e mudar aquilo que é ruim. Concentrarmos mais em tentar disseminar as boas práticas, as melhores, as mais eficientes, replicar as boas soluções.

Normalmente os progressistas, que também querem mudar o mundo como nós, se concentram em eliminar o que eles veem de ruim, a ponto de querer mudar “tudo que está aí”, criar o “novo”, implantar ideias nunca antes testadas.

Só que mudanças bruscas e revolucionárias, como todo administrador aprende, têm enormes chances de dar errado, e ao invés de melhorar pioram a situação.

Normalmente queremos testar ideias novas e revolucionárias cientificamente, com calma, num beta test ou num “projeto piloto”, antes de adotar para toda a população de uma forma revolucionária.

Algo que nós administradores sabemos fazer muito bem, e fazemos o tempo todo.

Infelizmente, nossos jovens revolucionários e os professores que os incentivam não acreditam em “pesquisa de mercado”, “beta tests”, plano piloto, “best practices”, escolas modelos, que deveriam primeiro fazer testes antes de generalizar, e partem para a tomada de poder, a revolução.

Acham que o sistema já é podre na sua essência, que solução teórica e ótima não precisa ser previamente testada. Ou, se frustraram nas várias tentativas de implantar melhorias que não deram certo.

Por isto o Administrador é tão importante como mediador dos conflitos naturais de uma sociedade.

Lidamos com conflitos diariamente.

De todos os revolucionários da história nenhum era administrador, ou que tivesse feito um curso de administração que já existia na França desde 1802. Nenhum trabalhou numa empresa, por exemplo: Karl Marx, Hegel, Rosa Luxemburg, Lenin, Mao Tsé-Tung, Fidel Castro. Nenhum foi treinado para implantar projetos nem medir o sucesso na prática, e deu no que deu.

Administradores não se frustram com tudo o que está errado por aí.

Sabem que mudanças sempre partem do existente, começar do novo é fórmula para o desastre.

Também percebem como tudo está mudando diariamente: os seus departamentos, hospitais, escolas e empresas.

A solução para o Administrador não é disseminar estas melhorias rapidamente, e nunca  “destruir tudo que está” aí e começar do zero. A experiencia mostra que isto não funciona, pelo contrário.

Revolução para o Administrador é implantar novas ideias em cima do que já existia, como por exemplo, o uso do computador.

Revolução para os não administradores é tomar o poder seja pela democracia, seja pelas armas, e começar a dar as ordens certas, as diretrizes certas que todos precisam obedecer imediatamente.

Como se o problema fosse “ordens ou interesses errados”, e não incompetência em implantar qualquer tipo de idéias ou ordem,

Vejam as resoluções do Partido Socialista em cada país que adotou essa linha administrativa.

Achavam que o mundo era ineficiente por ideologia ou por “falta de vontade política”, e não por incompetência administrativa.

Acreditem ou não, a direita também quer acabar com a miséria, a pobreza, a corrupção, o crime, o analfabetismo, mas quem disse que a direita é bem administrada como se supõe?

Por isto a maioria dos administradores é de esquerda na agenda social, mas na forma de implantar esta agenda social é de centro direita, ou nem dos dois. Eficiência é mais importante do que ideologia.

Curiosamente todos os países, que adotaram a Revolução como forma de mudar o mundo, mudaram tudo que estava ali de um dia para o outro, mas nos 50 anos seguintes quase nada mudaram.

Não há nada mais conservador do que isto. Stalin, Fidel Castro e Mao Tsé-Tung permaneceram 30 anos no poder, mudanças constantes não faz parte do ideário revolucionário.

Cuba, Rússia, China, Albânia e Coreia do Norte são hoje os países que mais estagnaram nos 50 anos seguintes. Quase nada mudaram após a grande mudança revolucionária.

China é uma exceção, porque passados 50 anos eles decidiram tratá-la como uma empresa, com o concurso de milhares de administradores e engenheiros de produção, que será assunto de um outro livro em breve, Introdução à Administração Socialmente Responsável.

Se você é jovem e quer mudar o mundo, aprenda a ser administrador ou complemente o seu curso profissional com um MBA.

Aí sim, mude o mundo constantemente, diariamente, com pequenas melhorias, pequenos processos, pequenas ideias, e não destruindo tudo o que está aí, na esperança de termos um mundo melhor.

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A Missão do Administrador Copyright © 2014 by Stephen Kanitz is licensed under a Creative Commons Attribution-NoDerivatives 4.0 International License, except where otherwise noted.

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