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Prometo Respeitar a Ética do Administrador

A maioria das profissões acha que Ética é cumprir as leis, não fazer nada de “errado”, não mentir, não corromper funcionários públicos, o “do no evil” da Google.

Por isto a maioria nem estuda Ética, sob este ângulo ela é considerada até meio óbvia.

Infelizmente, Administração é uma das poucas profissões que ensina ética profissional para os seus alunos.

Harvard Business School nos Estados Unidos e Tsinghua na China ensinam logo no primeiro ano.

A primeira coisa que ensinamos em Administração é que Ética é tudo que decidimos não fazer, apesar de ser correto, legal e permitido.

Parece estranha esta definição, por isto vou simplesmente dar um exemplo concreto de como a nossa ética funciona na prática.

Estamos na crise de 2008, que por pouco não contaminou o Brasil.

Mas quase perdemos tudo devido a três empresas brasileiras: VCP, Sadia e Aracruz, que sozinhas criaram uma enorme crise cambial.

Estas três empresas fizeram operações especulativas com câmbio, e no meio da crise internacional perderam entre 6 bilhões a 12 bilhões.

Em 2004 teria sido 50% das nossas reservas internacionais.

Seus diretores financeiros apostaram praticamente a totalidade do seu patrimônio, e se não fosse a ajuda da Perdigão e do governo teriam quebrado.

Posteriormente, descobrimos que nenhum dos três diretores “financeiros” era formado em Administração, muito menos em Administração Financeira.

O diretor financeiro da Sadia era formado em Economia pela PUC Bahia.

O diretor financeiro da Aracruz era formado em Economia pela PUC RIO.

O diretor financeiro da VCP era formado em Economia pela PUC SP.

(Algo inclusive que todos os colunistas econômicos do Brasil abafaram.)

Os três economistas especularam com câmbio, para obter um lucro extra. Maximizaram o lucro como reza o discurso único desta ciência.

Avaliaram os riscos dentro dos algoritmos de sua ciência, garantiram ao Conselho de Administração que os cálculos mostravam baixo risco, e foram em frente.

Nós, Administradores Financeiros, jamais teríamos aceito um cargo de Economista Chefe, por exemplo, já que não fomos adequadamente treinados. Por que economistas não podem fazer o mesmo? Veremos no próximo capítulo.

Mas mais importante ainda, teríamos dito aos nossos Conselhos de Administração que especular com o câmbio não é o nosso “core business”. 

Queremos maximizar o lucro, mas dentro de limites, dentro de nossas competências e dentro de nossos planos operacionais.

Especular com câmbio para ter um “lucrinho extra” é algo que não fazemos.  Não faz parte do “core business” que era Frango ou Celulose.

Ética é saber o que não fazer, apesar de ser legal.

Na Sadia porém, o diretor financeiro não disse “Senhores, nosso core business é frango”.

Nem na VCP e Aracruz disseram aos seus Conselhos “Nosso negócio é celulose e não especular com câmbio”.

Todos os Administradores Financeiros nas demais empresas foram enfáticos nesta questão, e safaram as suas empresas, com poucas exceções.

Aqui fazemos hedge cambial, mas se suas famílias querem especular com câmbio, que o façam na pessoa física e não na nossa jurídica.”

Foi o que salvou o Brasil e milhares de empresas brasileiras com profissionais de uma enorme crise, os erros ficaram basicamente restritos a três grandes empresas.

Pena que nestes 50 anos de profissão não tenhamos mostrado como o administrador tem salvo este país de uma série de enrascadas. Como estou fazendo aqui.

Pudera, sequer temos um American Management Association, criada nos Estados Unidos em 1918.

Espero que você leitor, nos próximos 50 anos, seja mais ativo em mostrar a nossa contribuição.

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A Missão do Administrador Copyright © 2014 by Stephen Kanitz is licensed under a Creative Commons Attribution-NoDerivatives 4.0 International License, except where otherwise noted.

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