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Administrar Requer Ética e Caráter

O futuro é para ser feito, não para ser previsto.

Esta é a grande linha divisória que divide administradores de um lado, e os sociólogos, cientistas políticos e acadêmicos de outro.

Muitos cientistas sociais e economistas acham que seu dever é tentar prever o futuro, e proteger a sociedade das coisas ruins que enxergam na nossa frente.

Por isto a maioria de suas previsões são negativas e catastrofistas.

Nenhuma sociedade precisa de uma classe que nos proteja das coisas boas que o futuro nos trará, somente das coisas ruins.

Por isto vivem prevendo recessões, inflação, deficit, nada de positivo.

Porque são catástrofes que os colocam em ação, criando políticas públicas de gastos públicos, políticas macro prudenciais, criam salvaguardas financeiras, alfandegárias, proteções como Bolsa Família e até novas sociedades possíveis.

Como foi o marxismo de Karl Marx, que sugeriu uma mudança radical em toda a sociedade com o uso da violência, violência revolucionária, porque ele previu o mundo econômico não repleto de mais de 250 classes profissionais, como admitiu recentemente Cuba, mas que o mundo se reduziria para somente duas classes, os engenheiros que inventavam as máquinas industriais e os trabalhadores de chão de fábrica.

Para nós administradores e engenheiros o futuro é feito e não previsto.

E o futuro que queremos implantar é sempre bom, normalmente são as boas práticas que algumas empresas inovadoras já descobriram que funcionam.

Para nós o futuro é para ser construído com suor e lágrimas e não destruído com ações revolucionárias e guerrilha.

O máximo que cada um de nós pode fazer é ter uma vaga ideia do que poderá acontecer, podemos saber o jeitão da coisa, e nada mais.

Minha vida é um bom exemplo. Meu Livro O Brasil Que Dá Certo, foi um best seller em 1994, porque foi praticamente o único que mostrou um Brasil positivo depois do Real.

Praticamente, todos os economistas famosos previram que o Plano Real daria errado.

Prof. Roberto Macedo, Professor Titular da Universidade de São Paulo, escreveu uma coluna no Estado de São Paulo me atacando pessoalmente, num argumento ad hominem, como sempre, dizendo o seguinte:

“Li perplexo a entrevista A Crise Já Era, do meu colega de faculdade da USP, Stephen Kanitz”.

O título de seu artigo catastrofista foi “A Crise Está Aí”, muito apropriado para um economista.

“Stephen foi meu colega também em Harvard, ele na Faculdade de Administração e eu do Departamento de Economia.”

“A metodologia das duas áreas é bem diferente e é tradicional uma rivalidade intelectual entres elas.”

A Business School ficava do outro lado do Rio Charles, só que segundo Macedo “no outro lado do rio se pensa de forma errada”.

Existe sim uma luta de classes neste país, mas é entre aqueles que acham que o futuro é científico e previsível e que o futuro traz surpresas que precisam ser bem calculadas e evitadas.

É a luta de classes entre intelectuais que acham que sabem e o resto da população que acha que não sabe tanto, mas trabalha produzindo coisas todo dia, não ideias.

“O professor Kanitz baseia as suas afirmações muito otimistas nas 1000 empresas que analisa na edição de Melhores e Maiores”, afirma Macedo.

Insinuando que quem analisa as 50 variáveis que determinam o sucesso das 1000 maiores empresas deste país é incapaz de entender o Brasil tão bem como aqueles que analisam cinco variáveis, a dívida interna, o deficit público, taxa de investimento e ajuste fiscal, variáveis apontadas por Macedo no seu artigo.

O ataque foi tão violento, que a direção do Estado de São Paulo me procurou se eu não queria escrever uma réplica.

Disse que não. Ficaria feliz se eles simplesmente o demitissem do Conselho do Estado de São Paulo, se o Plano Real desse certo.

Algo que não fizeram.

A maioria dos intelectuais são movidos por prestígio, entrevistas na imprensa, plateias e programas de televisão.

Aparecer em público ou simplesmente aparecer é a sua moeda de troca, a sua motivação.

Aí, a questão que todo intelectual é forçado a enfrentar é: devo dizer o que eu penso, ou devo dizer o que a plateia quer ouvir.

Se meu compromisso é com a integridade intelectual, a minha opção é a primeira.

Digo o que penso mesmo que seja contra a corrente.

E já sofri muito com isto, mas minha ética é esta, dizer o que tem de ser dito.

De forma clara e inequívoca.

Ao escrever O Brasil Que Dá Certo, estava colocando em risco a minha reputação. Se o Plano Real não desse certo,  pelo menos até 2005, que era a data limite da minha previsão muito otimista, você não estaria lendo este livro.

Escrever um único artigo “A Crise Já Era”, não compromete uma reputação, tanto é que Roberto Macedo continua colunista do Estado de São Paulo, apesar de ter contribuído justamente para o baixo nível de investimentos em 1994, tão necessário para o sucesso do Real.

Devido às previsões pessimistas de Macedo e tantos outros, a demanda explodiu como previra. Os investimentos não, porque ninguém investe antes de uma catástrofe, e o Banco Central teve que elevar os juros para mais de 25% de juro real, para conter o consumo.

Exatamente o que se ensina no outro lado do Rio Charles.

Mas se seu compromisso é com a vaidade, a segunda opção é a que vence, você vai dizer o que os outros querem ouvir.

Ser pobre e ao mesmo tempo desconhecido é a morte para todo intelectual.

Woody Allen retrata magistralmente este personagem no filme Zelig.

Zelig é uma pessoa tão amável, tão desejosa de agradar, que concorda com tudo o que a pessoa ao lado diz.

Eu é que lia perplexo os artigos do economista Mario Henrique Simonsen, que ao longo de cinco anos apresentou cinco planos diferentes da Dívida Externa.

Com isto ele permaneceu na mídia cinco anos mais do que eu. Eu apresentara logo no início o Plano de pagarmos Juros Reais e não Nominais, e nunca mudei meu raciocínio.

Obviamente os jornalistas brasileiros perderam todo o interesse em mim, “seu discurso é sempre o mesmo, Kanitz”.

Para quem tem integridade intelectual tem que ser assim, não outra saída do que a solução científica, do que a solução do momento.

Zelig ao mudar de opinião constantemente acaba indo ao psiquiatra com um sério problema.

Ao querer ser todo mundo, agradar todo mundo, especialmente jornalistas, ele acaba sendo ninguém.

Sendo ninguém e não tendo opinião própria ele acaba esquecido.

No Brasil, falar sempre a verdade é de fato complicado. Por isto não somos tão bem vistos como queríamos, mas temos que seguir em frente.

Precisamos aprender a dizer a verdade com “ternura”, à moda latina, sem ofender, sem ir direto ao ponto, que é a moda dos anglo saxões.

Não ter medo de dizer a verdade é 0 nosso primeiro passo como administrador.

Um compromisso ético e tanto.

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A Missão do Administrador Copyright © 2014 by Stephen Kanitz is licensed under a Creative Commons Attribution-NoDerivatives 4.0 International License, except where otherwise noted.

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