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Vivemos Para o Futuro, Não Para o Presente

Nosso maior problema como prisioneiros de guerra“, diz Viktor Frankl no seu livro “O Significado da Vida”, “era não ter uma visão de futuro“.

Ao contrário de presos comuns, não havia para um prisioneiro de guerra uma data certa para a liberdade. Isto gerava consequências trágicas.

Muitos prisioneiros de guerra achavam que seriam libertados antes do Natal de 1944, porque as Forças Inglesas e Americanas já haviam desembarcado na Normândia. Mas o Natal passou e a guerra somente acabaria em Junho de 1945.

Decepcionados e desiludidos, centenas de prisioneiros morreram logo depois do Natal, sem explicação, numa frequência duas vezes o estatisticamente normal.

Simplesmente desistiram de viver por acharem que não tinham mais futuro. Erraram por alguns meses.

Nos últimos 30 anos, nossos filhos têm sido bombardeados pelos nossos intelectuais, imprensa e professores universitários que nosso país não tem futuro.

Nos inúmeros textos escritos por intelectuais para as comemorações dos 500 anos do Descobrimento em vez de olharmos para um futuro a fazer, usaram a ocasião para mostrar que nem passado tínhamos.

Intelectuais nos lembraram que somos um país de corruptos por termos sido colonizados por desterrados e criminosos, mas nunca revelam que nossas Universidades Públicas contratam mais professores de Sociologia e Política do que professores de Auditoria e Fiscalização.

A USP tem um único professor de Auditoria, consequência da Lei do Economista de 1945, Lei 7988, que mandou fechar a partir de 1946 todas as escolas de Administração deste país. E no curso de Economia, recém-criado, não se ensina Auditoria nem Fiscalização.

E de lá para cá perdemos a nossa Visão de Futuro do administrador, do advogado, do engenheiro, do empresário, do empreendedor e passamos a ser dominados pela visão de futuro do Economista, o único entrevistado pela imprensa sobre esta questão.

A Revista Veja, dos quatro colunistas fixos, três são economistas, Maílson da Nóbrega, Cláudio de Moura Castro e Gustavo Ioschpe, os dois últimos falando de Educação para o futuro.

Para o economista, o futuro é para ser previsto e evitado quando for ruim. Aumenta-se os juros, reduz-se o câmbio, aumenta-se os gastos públicos dependendo do que se “vê” pela frente.

Para o administrador, o advogado, o engenheiro, o empresário, o empreendedor, o futuro é para ser feito, com suor, lágrimas e trabalho, não simplesmente previsto com “modelos estatísticos”.

O futuro é nosso para ser criado da forma que desejamos, não “esperado” num Deus que o dará pela bola de cristal.

O Japão e a Alemanha do pós-guerra não pautaram sua reconstrução em previsões econométricas  porque sequer tinham mais uma economia para ser prevista.

Decidiram construir seu novo futuro ao ponto que suplantaram seus vencedores, a Inglaterra e os Estados Unidos, tal o poder desta postura perante o futuro.

Precisamos resgatar a visão de futuro dos engenheiros, dos carpinteiros, empreendedores, advogados e administradores e rejeitar de vez a visão niilista dos previsores do futuro, que preveem o futuro da volatilidade, do câmbio, do juro para poder especular, e das previsões de curto prazo que levam a nada.

Ficamos tão preocupados com as marolas que esquecemos de ver as ilhas do horizonte.

Administradores muitas vezes quebram a cara não conseguindo fazer o que pretendiam, nem sempre criam empresas de sucesso como gostariam. Mas a favor dos administradores, eles têm o mérito de ter pelo menos tentado.

Tentado fazer, em vez de simplesmente tentado prever, sentados em cátedras acadêmicas com suas redomas de vidro.

Única forma de devolver aos nossos filhos um sentido para suas vidas é mostrar que existe uma outra visão de mundo, de ação construtiva e não de especulação.

A missão do administrador, e de muitas outras profissões, é fazer o futuro, como o queremos.

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A Missão do Administrador Copyright © 2014 by Stephen Kanitz is licensed under a Creative Commons Attribution-NoDerivatives 4.0 International License, except where otherwise noted.

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